Ouvi dizer
que só fazer poesia é se esconder
é covardia de quem nega o mal, o absurdo
Ilusão unilateral em luzes e cores
é virar as costas para tantas dores.
No colo da Vontade, em tríade,
lá no espaço escuro inferior de lua nova,
deixei meu lamento perguntar:
Por que olhos e ouvidos não vêem nem escutam?
Que corações são estes desconfigurados de sentir?
E o colo se fez abraço
Um laço
Desatou do egoísmo à minha insignificância
No alívio de aqui saber e sentir
e basta!
Pois em fazer poesia tem útero e semente
tem sangue, suor, injustiça, fome,
tem excesso excludente
tem dor,
tem tanta dor excedente
que o coração é pequeno e faz transbordar.
Aqui sei
e basta!
Versos mal escritos têm pouco de arte
e muito de alma daninha
ou de ninho a incubar.
Aqui sei
e basta!
Da dor do mundo sou parte e testemunha
enquanto grito em voz muda a desesperança
catando cacos de humanidade escassa.
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Fernanda Almada
Uberaba/MG, 2 de abril de 2022
23:54h
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