domingo, 10 de abril de 2022

Depois de "Dos buracos de tantas outras"

 












Meu rosto orvalhava emoção de me ler
quando o Sol se escondeu e fez chuva.
O vento me abraçou na varanda 
(Tive que salvar as páginas das gotas serelepes)

Já quase se pondo; tímido atrás das nuvens,
aquele ofereceu seus últimos raios de dia aos pingos que despencavam.
Esperei pelo arco-íris
que ligeiro se fez real
                           (aqui dentro).

Logo já se encantou a noite
e a luz dos homens não acendeu. 
   (A vida na roça tem desses presentes...)
Era pra ver melhor; eu sei.

Acendi velas
que ainda iluminam meus dedos no lápis
e as palavras que surgem nesse papel
e me aquecem
e me aconchegam
e me amparam de "encontrar reflexos desagradáveis de ser".

Sob luz das velas transmuto
                            _transdigo_
                            _transgrito_
as vozes que pude (me) ver
quando te vi,
                 senti,
                  ouvi
sendo única
e sendo todas nós.

Obrigada, Carol.
🙏🏻❤️
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Fernanda Almada
Uberaba/MG
9 de abril de 2022
19:33h

domingo, 3 de abril de 2022

Ouvi dizer

 














Ouvi dizer
que só fazer poesia é se esconder
é covardia de quem nega o mal, o absurdo
Ilusão unilateral em luzes e cores
é virar as costas para tantas dores.

No colo da Vontade, em tríade,
lá no espaço escuro inferior de lua nova,
deixei meu lamento perguntar:
Por que olhos e ouvidos não vêem nem escutam?
Que corações são estes desconfigurados de sentir?

      E o colo se fez abraço
      Um laço
      Desatou do egoísmo à minha insignificância
      No alívio de aqui saber e sentir
      e basta!

Pois em fazer poesia tem útero e semente
tem sangue, suor, injustiça, fome,
tem excesso excludente
tem dor,
tem tanta dor excedente
que o coração é pequeno e faz transbordar.

      Aqui sei
      e basta!
            Versos mal escritos têm pouco de arte
            e muito de alma daninha
                  ou de ninho a incubar.

Aqui sei
e basta!
Da dor do mundo sou parte e testemunha
enquanto grito em voz muda a desesperança
catando cacos de humanidade escassa.

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Fernanda Almada
Uberaba/MG, 2 de abril de 2022
23:54h