Na horta beirando a casinha
o verão deixou seu rastro de abundância.
Verdes que minhas mãos não plantaram...
Simplesmente brotaram!
Feitio dos passarinhos, abelhas, brisas...
Hoje o Alecrim, amedrontado, me pediu ajuda.
Suas novas vizinhas, folgadas que só, tomaram seu espaço, roubando e disputando seu alimento e vigor.
Bálsamo e Babosa, lá do outro lado, ouviram a queixa e aproveitaram para me mostrar o quanto também estavam sendo sufocados.
Enquanto convencia as fronteiriças desconhecidas sobre a necessidade de remoção
ouvia o canto do canarinho, que parecia querer me ajudar na tarefa.
Pois então, pus mãos na enxada, nos galhos, no chão...
E quando removi uma pedra no caminho
descobri que era esconderijo, coberta ou ninho,
de uma jovenzinha em espiral, que sequer acordou.
Mas foi meu susto, espanto e medo!
O pé de jabuticaba,
que ainda não se recuperou muito bem da geada do último inverno,
com a sabedoria de quem só é o que veio pra ser,
logo me trouxe a calmaria e o lembrete:
"A natureza é. Vocês são natureza".
O medo transmutou em respeito
no limite do que se pode ser e estar.
E enquanto eu soltava a jararaquinha lá embaixo,
na beira do rio
seu gracejo serperteoso me sorriu
e eu soube, de novo, que a vida é mais que acaso
É perigo
E é Amor
É vaso
Vazio cheio de pequenas grandiosidades.
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Fernanda Almada
27 de março de 2022
Sítio "ALMADA FIGUEIRA", Uberaba/MG
21:46h
{📷. 🐍 A jovem Jararaca-caiçara
(Bothrops moojeni)}