domingo, 27 de março de 2022

Na horta beirando a casinha

 












Na horta beirando a casinha
o verão deixou seu rastro de abundância.
Verdes que minhas mãos não plantaram...
Simplesmente brotaram!
Feitio dos passarinhos, abelhas, brisas...

Hoje o Alecrim, amedrontado, me pediu ajuda.
Suas novas vizinhas, folgadas que só, tomaram seu espaço, roubando e disputando seu alimento e vigor.
Bálsamo e Babosa, lá do outro lado, ouviram a queixa e aproveitaram para me mostrar o quanto também estavam sendo sufocados.

Enquanto convencia as fronteiriças desconhecidas sobre a necessidade de remoção
ouvia o canto do canarinho, que parecia querer me ajudar na tarefa.

Pois então, pus mãos na enxada, nos galhos, no chão...
E quando removi uma pedra no caminho
descobri que era esconderijo, coberta ou ninho,
de uma jovenzinha em espiral, que sequer acordou.

Mas foi meu susto, espanto e medo!
O pé de jabuticaba,
que ainda não se recuperou muito bem da geada do último inverno,
com a sabedoria de quem só é o que veio pra ser,
logo me trouxe a calmaria e o lembrete:
"A natureza é. Vocês são natureza".

O medo transmutou em respeito
no limite do que se pode ser e estar.

E enquanto eu soltava a jararaquinha lá embaixo,
na beira do rio
seu gracejo serperteoso me sorriu
e eu soube, de novo, que a vida é mais que acaso
É perigo
E é Amor
É vaso
Vazio cheio de pequenas grandiosidades.

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Fernanda Almada
27 de março de 2022
Sítio "ALMADA FIGUEIRA", Uberaba/MG
21:46h

{📷. 🐍  A jovem Jararaca-caiçara
(Bothrops moojeni)}

sexta-feira, 25 de março de 2022

Grão de Pólen

 













 Há tristezas em minhas ignorâncias

que de alegrias polinizam cada saber

convidando novas ignorâncias

que em seus colos trazem outras tristezas

       - às vezes desesperos, desesperanças - 

e, então, mais saberes

e novas alegrias!

       e ignorâncias e tristezas e saberes e alegrias...


Nos vazios cheios de infinitos

apanho encantos de devires

Da euforia ao lamento de ser

experimento meus fragmentos

exploro meus figurinos.


A arrogância veste minha mediocridade.

Talvez só esconda a grandiosidade de minha insignificância.


Ainda sou leiga em mistérios do simples manifestado.

Quando souber

serei ingente feito perfume de pétala de flor outonal.


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Fernanda Almada

Uberaba/MG, 25 de março de 2022