E se seguiram alguns minutos de dedicação a essa preocupação desnecessária, porém ainda tão fantasmagoricamente presente...
Afinal, quando foi que apresentar umas imagens de registros bonitos começou a provocar inquietações e aflições dessa ordem?
Talvez tenha sido lá no tempo em que viver era sobretudo tangibilidade;
olhos nos olhos, olhos na pele...
Lá na ingenuidade de pequeno ser que já era grande o suficiente para toda sorte de chacotas
crescendo com registros de tristeza, raiva, dor, vergonha, insuficiência, inadequação...
Receptáculo de sombras
tão negligenciado quanto violentado,
afinal, basta ter um corpo para ser alvo;
ali não tem distinção nem padrão.
"Preguiça, desleixo, pouco empenho, falta de força de vontade",
eles e elas disseram e dizem,
do alto de suas arrogâncias meritocráticas insensíveis
e tão superficiais quanto seu pó de pseudo alimento que insiste em não dissolver na água.
E seguiu em desejo imperativo de ser
embora ainda sem se reconhecer...
Seguiu sem lugar
nas armadilhas dos "tem que"
impossíveis de sustentar
e distante,
muito distante,
de seu corpo de explorar
seu corpo de experimentar
seu corpo de descobrir
seu corpo de realizar...
E foi chão percorrido
em período medido em eras
até no espelho do poço encontrar
e finalmente enxergar
A imensidão magnífica de ser
água macia em cachoeira braba
Transparência viva entre estrondo permanente
na força de um corpo líquido
e passageiro
com flacidez de aconchego sob o sol
entre moldura de árvores e passarinhos...
E enquanto há solidez
é sim excesso que transborda
Deslimita aceitação
sem rigidez ante ferro, concreto, repetição.
A imensidão magnífica de ser
- entre olhos rasos de alma -
pequena aprendiz
de verdadeira e profundamente viver.
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Fernanda Almada
23 de fevereiro de 2023
Uberaba/MG
18:46h
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